quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Garra e Brisa - Encontro da Ansiedade e Paciência


Num dia confuso e inusitado, sem saber o que chocava numa crosta divina, o deus Garra, deus da ansiedade, viu no Pico da Bandeira o nascimento do deus Brisa, deus da paciência. Garra descreveu seu império, seus castelos habitados pelo mundo afora, o seu poder controlador exercido nas dimensões do seres viventes corpóreos, pobres terráqueos. Narrou seus feitos e desfeitos, contando soberanamente a um bebê, como se fora estórias de ninar.
Veja, disse Garra, as vidas com seus pavores tentando voltar ou ir adiante no tempo, desesperançosas por algo que não se pode mudar, atormentadas pelo que aconteceu e atormentadas pelo que ainda acontecerá.
Veja, disse Garra, como dilacero as almas gerando terror e pânico no âmago dos seres viventes corpóreos, eles não conseguem ver nada além de mim, o mundo se centraliza em meu ser, estou sentado no trono de suas vidas, agarrado no passado, sorrindo no presente e esperando-os no futuro que teimam em viver num eterno hoje, impossível, mas não sabem.
Veja, disse Garra, estou entranhado nos relacionamentos desfeitos, abro moradia para Cidália, deusa do ciúme, que faz morada na destruição dos casamentos.
A expressão de Brisa era de espanto, que no declamar da poesia fúnebre de Garra, crescia e crescia e já não era um bebê, mas um jovem, enquanto Garra falava, pensava Brisa: como poderia um império tão cruel e sangrento instaurado na existência dos seres viventes corpóreos que foram chamados à paz?
É de se esperar, disse Brisa, já dominando a fala no falar de Garra, que pessoas sem respostas e direção dêem lugar a vocês, é da essência dos seres viventes corpóreos clamar pela presença da ansiedade quando algo foge do controle, quer seja o tempo em que se encontrem. Não é novidade, apesar da aterradora destruição que você causa, oh Garra, mas fui enviado dos altos céus, a morado dos deuses, pra trazer o equilíbrio, entre você e eu, entre seu império e meu império.
Os Seres viventes corpóreos não vivem sem você, oh Garra, eles precisam da sua dosagem de ansiedade, para que não sejam ante a vida seres passivos e inanimados, você é a combustão imediata que os levam a tomar atitudes diante da vida, mas não conhecem a mim, Brisa, deus da paciência, que traz limite ao seu poder, oh Garra, fazendo com que tenham ações pela sua presença, mas não sejam encaracolados pelo todo do seu império.
Trago agora, oh Garra, as mãos dos seres viventes corpóreos, correntes, sim, correntes, a partir de agora, mesmo você sendo um deus, eles poderão acorrentá-lo com meu poder permitindo que você vá até o ponto de reação deles, mas se limite até o que não se pode ser feito. Eles com minhas correntes te prenderão fora de suas casas, de suas mentes, de seus corações. Nas noites de sono, eles poderão dormir e sonhar com você inerte do lado de fora. Seu poder se limita na minha presença, oh Garra, quer você queira ou não, onde eu estiver você é obrigado a recuar, a dar lugar ao meu império, que é um império de paz, esperança e fé.
Garra muito se irritou com o nascimento de Brisa, mas nada pode fazer a não ser esperar e ansiar que os seres viventes corpóreos não conheçam Brisa, e ainda hoje, muitos ainda vivem no império da ansiedade sem serem transformados pelo império da paciência, onde a paz, esperança e fé trazem mais sentido do que o tormento da ansiedade.

By Tony Edson

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